Século XIX

 

Invasões Francesas.

Durante a primeira invasão francesa, comandada pelo general Junot, quando as tropas chegaram a Lisboa, uma bala de canhão atingiu o claustro e a comunidade, em pânico, foi-se refugiar no celeiro (atual creche) considerado mais seguro.

Um dos acampamentos das tropas francesas situava-se perto do Convento e as sisters, antevendo uma visita por parte das tropas, enterraram no jardim, junto à Sacristia, (na área exterior do refeitório) a maior parte dos objetos preciosos de prata e ouro. Mesmo assim, quando os franceses vieram ao Convento, pilharam tudo o que encontraram na Igreja e a bonita cruz que estava em cima do Sacrário foi levada.

1820 - Revolução Liberal.

Com a política anticlerical levada a cabo pelos governos liberais, a comunidade do Bom Sucesso viu-se confrontada com inúmeros problemas.

Imediatamente após a revolução, as Sisters começaram a receber intimações para apresentarem um inventário de tudo o que era pertença da comunidade (casas, propriedades, entre outros).

1823.

Em 1823, a comunidade foi informada que o Convento iria ser encerrado e que os três conventos dominicanos do Bom Sucesso, de Rei Salvador e de S. João Baptista de Setúbal se iriam fundir. De imediato, as Sisters acionaram todos os meios para evitar o encerramento do Convento, enviando vários pedidos ao rei, em que se propunham dedicar-se à educação, com o intuito de manter o Convento.

No dia 23 de maio de 1823 as Sisters foram obrigadas a saír do Convento e juntar-se às Irmãs do Rei Salvador. Os oficiais obrigaram-nas a fazer um juramento em como só levavam consigo os seus bens pessoais e, enquanto a comunidade se preparava para partir, estes oficiais pilharam tudo o que era de valor (mobiliário, imagens, quadros ...), As Sisters assistiram, impotentes, a esta intromissão, mas recusaram-se a partir sem levarem a imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso. Perante tal firmeza, os oficiais acabaram por ceder. 

Volvido um mês, as Sisters foram autorizadas a regressar ao Convento e foi-lhes restituída parte dos seus bens. Em homenagem ao seu retorno, que se deu a 25 de junho, a comunidade obteve permissão para celebrar todos os anos, neste dia, a Festa de Nossa Senhora do Bom Sucesso.

1823 - Visita do rei D. João VI.

Apesar da situação política conturbada, D. João VI, no ano de 1823, veio visitar a comunidade do Bom Sucesso, de quem era amigo desde os tempos de pequeno, quando vinha de visita com a sua mãe, D. Maria I. Foi calorosamente recebido. Contudo, deu-se um pequeno incidente. Uma das sisters mais idosas começou a dizer: "Não pode ser o Rei! O meu pequeno e querido João nunca poderia ter crescido e ter-se tornado num homem tão feio como vós!". O rei, não percebendo o inglês, pediu a outra sister para traduzir, mas ela evitou fazê-lo. Quando o rei se deslocou para fazer uma visita ao claustro, a sua espada fez um grande barulho e a pobre sister convenceu-se de que ele era o diabo. Ela acorreu rapidamente, declarando que só o diabo poderia ser assim tão feio!

1829 - Primeira aluna.

Após o regresso da Comunidade ao Convento, as Sisters empenharam-se num novo projeto: o de abrir uma escola, conforme pedido aceite pelo rei D. João VI. Contudo, as duras dificuldades económicas que enfrentavam obrigaram-nas a reconsiderar.

Esta situação foi alterada quando, em 1829, a comunidade do Bom Sucesso recebeu um pedido insólito. O vice-cônsul britânico foi apontado como tutor de um bebé, uma menina órfã, cuja mãe que morrera no parto, teria pedido ao padre B. O'Dea, do Corpo Santo, que a criança fosse educada pela comunidade do Bom Sucesso. Após a autorização da Santa Sé, Mariana Russel Kennedy foi carinhosamente recebida pela comunidade e considerada a primeira aluna.

Entretanto, foram admitidas outras crianças para serem educadas  no Convento.

1842 / 1860 - Rejuvenescimento do Convento.

Mother Teresa Staunton foi eleita prioresa e deu-se um verdadeiro rejuvenescimento da comunidade. De facto, o trabalho de Mother Teresa levou a que fosse considerada a segunda fundadora do Bom Sucesso. Nesta altura, o colégio vivia grandes dificuldades. É sob a direção desta nova prioresa, em conjunto com quatro sisters vindas de Cabra (nome de uma localidade na Irlanda  - Cabrach en irlandés) em 1860, que o sistema de ensino sofrerá mudanças. Passa-se de um sistema de tutoria para um sistema de ensino organizado em anos escolares.

1861.

A Santa Sé autorizou a abertura de uma escola para as crianças pobres de Belém. A sala de aulas era no exterior do claustro e duas irmãs foram autorizadas a saír da clausura a fim de administrarem os seus ensinamentos. Uma das Irmãs,  que recebera formação na Irlanda para ensinar surdos, trabalhou com algumas crianças pobres que eram surdas. O nome da Irmã está registado em "Surdos e Mudos" editado em Portugal em 1913. 

 

1866.

António Maria Claret fundador da Ordem dos Missionários Claretianos, tendo vindo a Lisboa acompanhar a raínha D. Isabel II de Espanha, de quem era confessor, veio ao Bom Sucesso orar e pregar para a comunidade. Ao lado da porta de entrada da Capela foi colocada em 1966 uma placa comemorativa do 1º centenário desse evento. 

1876 / 1877.

Entre 1876 e 1877, foram admitidas 70 crianças, das quais 30 na secção primária e 40 na secundária, com idades compreendidas entre os 7 e os 20 anos.

1877 - Visita de Eduardo VII de Inglaterra.

O príncipe de Gales, futuro rei Eduardo VII, na sua visita a Portugal, incluiu no seu itenerário uma visita ao Bom Sucesso. O príncipe foi recebido pela comunidade e conduzido através do claustro até à sala de visitas. Aí assistiu a duas peças musicais, uma de canto e outra instrumental. As músicas foram calorosamente aplaudidas  e o príncipe Eduardo declarou nunca ter ouvido tão agradável Kathleen Mavourneen (música tradicional irlandesa). O príncipe ainda convidou as alunas a visitar o seu iate contudo, por viverem em clausura, não puderam aceitar o convite.